sexta-feira, março 16, 2012

10 Março - Descobrir a Escrita: A bordo de uma caravela...

Esta tarde criativa desafiou-nos a viajar por histórias e locais impensados. Lançados no mar da imaginação perseguimos situações insólitas e muitas emoções inesperadas.

Graças à colaboração dos autores foi possível reunir os resultados desta aventura.
José

Encontro-me a bordo de uma caravela. Sinto-me uma vela sem cera nem pavio, sem uso. Sinto-me a cavar a sepultura antes de tempo, à espera que o destino se crave em mim, afastando-me do resto de uma vida que podia ter sido diferente. O riso alarve das gaivotas há muito que nos deixou, tal como eu deixei para trás uma arca de sonhos a valer, escritos com o cheiro da erva por perto. Selei-os com o lacre da juventude, ou foi a juventude que me embriagou, selando-me num instinto de raça? Avanço no mar, como a rela na relva, longe do que imaginaram para mim, perto do que imaginaram por mim. Avanço.Perco-me.
Margarida

A bordo desta caravela fico enlouquecida. Este ranger tira-me do sério. Valha-me o som do mar. Fechar os olhos e mergulhar nos pensamentos. Que saudades do lar. De ver todos os que me são queridos. Mas vai valer a pena. Claro que sim! Como me disse a Carla antes de embarcarmos o mundo é demasiado grande, há tanto para descobrir e para ver que às vezes tem de ser. Na bagagem trago uma arca vazia, à espera de guardar um grão de areia, um cheiro invulgar, uma pedra especial, sei lá! Tudo o que couber! Sim, que a memória é muito traiçoeira e nem sempre nos conseguimos valer dela para reviver emoções e situações passadas. Uma brisa de ar fresco acorda-me destes pensamentos! E ao meu lado, aquela cara… aquele alarve!
São

A arara rara plana lá longe sobre a floresta densa. Olho o verde, sufoco. O calor húmido lá dentro traz a imagem da rã vermelha, perigosa. O ar fresco atravessa as velas salgadas ralas de uso. A caravela baloiça ao sabor das ondas do mar verde-azul. Peixes nadam no recife de coral. São de todas as cores. Na minha cela da nau leio palavras negras gravadas na madeira acima dos meus pés no tecto baixo. Tenho sede de água fresca. Tenho sede de liberdade que habita do lado de lá da grade com vista para o mar, a praia, a floresta imensa onde só chego com o olhar vazio. Tenho sede.
Rita

Os marinheiros portugueses partiram nas suas caravelas em busca de novas terras…não existindo maneira de conservar os alimentos tinham de levar animais vivos no porão (cave) do barco, como por exemplo: patos, galinhas, uma vaca não porque ocupava muito espaço! Andavam dentro das caravelas, cumprindo as suas tarefas diárias… Uma dela era lavar o chão do convés, tarefa que normalmente cabia aos grumetes (aprendizes de marinheiros) e subir pelos mastros para içar as velas! Estes barcos não tinham uma grande área mas, serviram para chegar a novas terras e conquistá-las!
Anabela

Era, ou não era??... Aquela cara? Aqui no escuro desta cave não consigo distinguir nada! E este aperto faz calar o meu pensamento. Que cheiro a cera, a madeira encerada. Faz-me recordar os tempos em que vivi naquela casa grande e cheia de vida. Ai, lar doce lar… agora aqui me encontro, nesta cela ondulante… Nem uma cara para me consolar. Então, o que me resta é recordar, aqui à luz da vela, e com o velho álbum na mão recordo cada momento. O que me vale é esta arca de imagens claras, que me vão sendo o ar que me faz sobreviver…
Cláudia

Lava-se o convés, o calor é tórrido, não se vê uma ave. As águas paradas e os homens desalentados… vão 100 dias de viagem nesta caravela do Inferno. No interior o ar é saturado e cheira ainda a velas derretidas que toda a noite se consumiram… Consumidos os homens de sede e saudade, num impasse, sem vento, sem ar, sem avançar. Largaram terra há 100 dias e quantos 100 faltarão ainda para o destino… e que destino? Rala-se o comandante com desespero crescente dos seus homens. E a vela cai mole, não há vento que sopre… Apenas estas águas paradas, o som da madeira e do cordame rangendo em coro, e o olhar mortiço dos seus homens insatisfeitos, destroçados, interrogando-se nesta viagem estática, vazia para lugar nenhum.
Margarida

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